sábado, 19 de agosto de 2017

Fahrenheit 451 (Ray Douglas Bradbury)

Este livro segue a mesma linha de obras distópicas que retratam um modelo de sociedade perfeita, desde que seguidas algumas regras, mas que logo logo é exposta às suas fragilidades, provocando a ruína de seus pilares. Um dos melhores exemplos para que ilustremos essa comparação é o clássico, mundialmente famoso, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.
Guy Montag é um bombeiro que vivia em uma sociedade onde os livros eram a pior ameaça que o sistema deveria evitar. Ironicamente, nessa sociedade, a tarefa dos bombeiros, ao invés de apagar chamas era a de incendiar os livros, sem poupar nem mesmos as residências onde fossem encontrados, caso necessário. Desta forma, era-lhes atribuída a nobre tarefa de manter a ordem, principalmente impedindo que as ideologias encerradas em suas páginas se disseminassem. Somente assim era possível que todos vivessem no mínimo socialmente aceito, uma vez que as opiniões próprias constituíam conspirações à ordem estabelecida e o pensamento crítico deveria ser impetuosamente combatido.
O melhor exemplo de alienação ideológica está expresso na figura da esposa de Montag. Enquanto ele trabalhava para conseguir mais uma parede de TV para a amada, Mildred passava o dia inteiro entretida com seus “parentes televisivos”. Com isso, o autor visa tecer uma crítica direta ao poder de influência da programação televisiva na mídia, tornando as pessoas consumidoras de conteúdos irracionais e reféns de uma programação fútil em detrimento do desenvolvimento de seu próprio pensamento crítico.
Em dado momento de sua vida, Montag conhece uma garotinha vizinha cujo nome era Clarisse. De modo intrigante, Clarisse não temia em refletir o mundo que a cercava, de forma que tamanho senso crítico vinha despertando o interesse de Montag. O sumiço inesperado da menina e uma abordagem a uma residência em que a senhora moradora se recusara a abandonar sua casa, sendo queimada junto com seus livros, fora a gota d´água para que ele tomasse consciência de todo o servilismo que aquela sociedade criara e a barbaridade a que estava disposta para manter sua cegueira. Afinal, o que os livros tinham que os faziam serem evitados e até mesmo destruídos? Ao tomar nas mãos um exemplar e ler algumas linhas, Montag não entende bem a mensagem, mas o episódio lhe soa como uma abertura para um mundo de luz e esclarecimento, nunca antes experimentado.
A partir daquele episódio, Montag passou por momentos difíceis de intensa confusão, despertando a atenção de seu chefe, o Capitão Beatty. Em um discurso político-ideológico, Beatty tenta convencer Montag sobre a singeleza da missão que tinham, fazendo entender que, em algum momento de sua vida profissional, todos os bombeiros estariam sujeitos àquela crise passageira. No entanto, Montag tinha agora outro propósito de vida: descobrir e preservar na memória o conteúdo daquelas páginas que poderiam transformar definitivamente o mundo. Como sozinho tal tarefa seria limitada e impossível, ele conta com o apoio do professor Faber. Inclusive, é o próprio Faber que o convence sobre a necessidade de racionalizar a vida e exercer a autocrítica diante de sistemas de censura como aquele.
A história contada por Ray Bradbury é extremamente atual, servindo perfeitamente como uma crítica da sociedade pós-moderna, principalmente à cultura midiática e tecnológica do século XXI. Não obstante tenha sido escrita em 1953, curiosamente o autor consegue retratar o mundo que começou a existir na década de 90. Uma das personagens mais intrigantes é o Capitão Beatty. No discurso que tem com Montag, Beatty demonstra a densidade de seu conhecimento literário e de sua capacidade em ler o contexto social. No entanto, na prática, Beatty adota uma postura irracional, preferindo viver na ignorância e apregoando a necessidade de que as pessoas se deixem levar por coisas simples e imediatas como “apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas”. Para ele, o que vale é o imediatismo e a satisfação instantânea das necessidades humanas. Dessa forma, a revolta de Montag frente ao sistema é o fruto de seu próprio despertar do temor daquilo que as pessoas desconheciam e evitavam, não porque era perigoso e sim porque foram coagidas a evitar, para que não viessem a questionar o destino que tinham traçado para elas.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Fahrenheit 451
Subtítulo:a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima
Autoria:   Ray Douglas Bradbury
Editora:   Globo
Ano:        2003
Local:      São Paulo
Gênero:   Drama | Distopia 

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 1966:


Nenhum comentário:

Postar um comentário