quinta-feira, 20 de julho de 2017

47 Ronins (John Allyn)

            Exaltando a tradição da cultura japonesa, John Allyn busca recontar em formato de prosa a incrível história que, para muitos, trata-se apenas de uma lenda. A edição traz em sua capa um cartaz do filme estrelado por Keanu Reeves e lançado em 2014, muito embora haja significativas diferenças entre a mídia literária e a mídia cinematográfica.
            No Japão feudal do século XVIII, mais precisamente por volta do ano 1701, a província de Ako vivia sob o comando do respeitado mestre samurai Lorde Asano Naganori. O país vivia submetido à Lei de Preservação da Vida, decretada pelo Xógun – líder supremo de todo o Japão, em que todo o ser vivente, seja humano ou animal, deveria ter preservado seu sagrado direito à vida e à incolumidade de sua existência. Incitado pelo alto funcionário do xógun, Kira Yoshihisa, Lorde Asano comete-lhe uma agressão tida como imperdoável naquela sociedade fortemente marcada pela disciplina e obediência. Consequentemente, o daimio é condenado a praticar o seppuku, ou seja, ferir-se fatalmente, como sinal de honra e expiação. Com sua morte, quarenta e sete guerreiros são rebaixados à condição de ronins, o que significava que agora eram samurais sem mestre. Em uma sociedade cuja referência das lideranças era extremamente importante, ser um ronin era o mesmo que pertencer a uma categoria desprezada na pirâmide social.
            A lealdade e honra à memória do falecido mestre não deixariam que aqueles ex-samurais aceitassem passivamente a condição que um golpe injusto do destino lhes submetera. Com isso, liderados por Oishi, vingar seu antigo mestre tornar-se-ia o propósito de vida que permitiria àqueles ronins serem coerentes com a memória de seus ensinamentos. Nesse contexto, desvela-se o que seria o maior destaque da cultura japonesa a que o autor se propõe ao recontar a história dos ronins: o código de honra samurai (bushidô), no qual valores como a justiça, lealdade, verdade e fidelidade aos princípios constituir-se-iam no principal meio de um ronin alcançar algum orgulho em suas atitudes. Destaca-se pois a grande mensagem que a lenda e a obra buscam transmitir, segundo a qual a fidelidade aos princípios deve ser algo religiosamente protegido, ainda que isso signifique perder a própria vida.
            A narrativa de John Allyn, embora bastante informativa, por vezes se perde na extensão reflexiva sobre as intenções de seus personagens. Mesmo assim, a leitura flui com bastante rapidez tornando o livro uma obra agradável e interessante. Existem diversos personagens secundários que demonstram a importância dos laços familiares para o personagem principal. Talvez uma crítica negativa seja na apresentação gráfica que a edição trouxe em sua capa e contracapa ao exibir um pôster do filme. O leitor que se dedicar a buscar saber qual dos personagens do livro seria aquele estrelado por Keanu Reeves pode se decepcionar. O filme, cuja fantasia alimenta ainda mais a crença de que a história dos ronins não passa de uma lenda, serve muito mais aos anseios mercadológicos da indústria do cinema do que à exibição de um recorte da rica história japonesa. Dessa forma, a obra de John Allyn e a produção cinematográfica são duas coisas distintas e independentes entre si, fazendo com que a referência que o livro faz ao filme sirva puramente a uma jogada de marqueting. Enfim, a lenda dos 47 Ronins exalta a inconformidade diante das condições que a vida impõe, fazendo com que a honra seja buscada dentro de si mesmo e não frente àquilo que a sociedade considera como memorável.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      47 Ronins, Os
Subtítulo: a clássica história de lealdade, coragem e vingança
Autoria:    John Allyn
Editora:    Novo Século Editora
Ano:         2013
Local:       Barueri
Gênero:    Drama

Confira o trailer do filme lançado pela Universal Pictures em 2014:


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