sábado, 17 de outubro de 2015

Filosofia Clínica: propedêutica (Lúcio Packter)



            Essa obra é um encarte de outra homônima publicada em 1997, em que o autor e sistematizador da Filosofia Clínica aplicada no Brasil, Lúcio Packter, visa tecer uma breve apresentação, em linhas gerais, do escopo de pesquisa dessa nova abordagem, bem como a área e modo de atuação do filósofo clínico. Um excelente material para que leigos ou demais interessados no assunto possam conhecer um pouco sobre esse campo terapêutico inovador que vem ganhando bastante espaço desde sua implantação em 1994.
            O autor parte do exemplo de um velho pescador que se dirige ao consultório de um filósofo clínico, a fim de iniciar o processo terapêutico. A partir desse exemplo hipotético, os conceitos são trabalhados de forma a expor o método investigativo da filosofia clínica. Dentre esses, o de representação ocupa um lugar de destaque, em que, recorrendo à tradição daquilo que disseram os filósofos, duas citações servem como balizadores. A primeira é de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são" e a outra de Schopenhauer: "O mundo é representação minha". Dessa forma, dá-se a entender que cada pessoa possui uma forma estritamente pessoal de enxergar e lidar com o mundo que a rodeia, sendo que não há verdade ou falsidade nesse aspecto, já que é somente o mundo segundo a representação dela.
            Quando uma pessoa diz que o mundo é desse ou daquele jeito, na verdade ela quer dizer que o mundo o é assim para ela. Isso nem sempre vem ao encontro da forma como as demais pessoas isoladas ou coletivamente concebem o mesmo mundo. Com isso, a filosofia clínica trabalha basicamente duas verdades: a verdade de cada pessoa para consigo mesma e a verdade convencionada ou socialmente aceita. A maioria das crises e problemas existenciais decorre da incompatibilidade entre a representação de mundo de um indivíduo e aquilo que é socialmente estipulado como correto, ético e moral.
            Mediante sessões, o partilhante (aquele que busca o filósofo clínico) exporá o problema que o aflige ou partes dele ao profissional da Filosofia Clínica. Cabe a esse, a tarefa de conhecer a historicidade da pessoa, mediante três etapas:
     1) EXAMES DAS CATEGORIAS: como a pessoa se relaciona com as várias referências que fazem parte de seu mundo (assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e relações);
     2) PESQUISA DA ESTRUTURA DE PENSAMENTO (EP): análise de como a pessoa se posiciona em sua existência. Trata-se de tudo aquilo que constitui a existência humana: sensações, emoções, conhecimento, pensamento, aptidões, etc.. Essa etapa constitui-se de uma relação de trinta tópicos.
     3) ANÁLISE DOS SUBMODOS E SUAS RELAÇÕES COM A EP: o filósofo verificará como a pessoa vivencia tudo aquilo que a constitui
            Deste modo, ao invés de oferecer soluções prontas e muitas das vezes falhas ao partilhante, o filósofo clínico o tornará mais consciente de si e de sua forma de se portar frente à própria existência. Trata-se de uma atividade constante do todo para as partes e das partes para o todo. Consequentemente, o partilhante terá mais condições de remodelar seus caminhos existenciais e ser mais pleno.
            Em meio a tantas outras abordagens terapêuticas (psicologia, psicanálise, comportamentalismo, etc.) a Filosofia Clínica busca ser uma nova oferta, porém com características bastante peculiares. O método conversa diretamente com as diversas linhas da tradição filosófica, especialmente a epistemologia, lógica, fenomenologia, analítica da linguagem, historicidade e estruturalismo, de maneira que ela efetua um resgate e uma aplicação prática para aquilo que os filósofos disseram durante séculos de história. É outro campo de atuação para o profissional formado em filosofia, já que se restringia ao ensino até então. Em Filosofia Clínica também não há o enquadramento do partilhante em quadros clínicos como normal X patológico, saudável X doente. Partindo do pressuposto de que cada um possui uma maneira própria de interagir com o mundo e que não existe uma forma correta a ser seguida por todos, tais referências tornam-se desumanizantes e seu uso deve ser evitado. Enfim, esse material elaborado pelo próprio sistematizador da Filosofia Clínica apresenta um novo método clínico e devolve à filosofia uma área de atuação que sempre lhe pertenceu durante tantos anos, desde que o ser humano reflete sobre o sentido de sua própria existência.
 
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Filosofia Clínica
Subtítulo:  propedêutica
Autoria:     Lúcio Packter
Editora:     AGE
Ano:          1997
Local:        Porto Alegre
Edição:      1ª
Gênero:     Filosofia Clínica | Terapia

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