Essa obra é um encarte de outra
homônima publicada em 1997, em que o autor e sistematizador da Filosofia
Clínica aplicada no Brasil, Lúcio Packter, visa tecer uma breve apresentação,
em linhas gerais, do escopo de pesquisa dessa nova abordagem, bem como a área e
modo de atuação do filósofo clínico. Um excelente material para que leigos ou
demais interessados no assunto possam conhecer um pouco sobre esse campo
terapêutico inovador que vem ganhando bastante espaço desde sua implantação em
1994.
O autor parte do exemplo de um velho
pescador que se dirige ao consultório de um filósofo clínico, a fim de iniciar
o processo terapêutico. A partir desse exemplo hipotético, os conceitos são
trabalhados de forma a expor o método investigativo da filosofia clínica.
Dentre esses, o de representação ocupa um lugar de destaque, em que, recorrendo
à tradição daquilo que disseram os filósofos, duas citações servem como
balizadores. A primeira é de Protágoras: "O
homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e
daquelas que não são por aquilo que não são" e a outra de Schopenhauer:
"O mundo é representação minha".
Dessa forma, dá-se a entender que cada pessoa possui uma forma estritamente
pessoal de enxergar e lidar com o mundo que a rodeia, sendo que não há verdade
ou falsidade nesse aspecto, já que é somente o mundo segundo a representação
dela.
Quando uma pessoa diz que o mundo é desse
ou daquele jeito, na verdade ela quer dizer que o mundo o é assim para ela.
Isso nem sempre vem ao encontro da forma como as demais pessoas isoladas ou
coletivamente concebem o mesmo mundo. Com isso, a filosofia clínica trabalha basicamente
duas verdades: a verdade de cada pessoa para consigo mesma e a verdade
convencionada ou socialmente aceita. A maioria das crises e problemas
existenciais decorre da incompatibilidade entre a representação de mundo de um
indivíduo e aquilo que é socialmente estipulado como correto, ético e moral.
Mediante sessões, o partilhante
(aquele que busca o filósofo clínico) exporá o problema que o aflige ou partes
dele ao profissional da Filosofia Clínica. Cabe a esse, a tarefa de conhecer a
historicidade da pessoa, mediante três etapas:
1) EXAMES
DAS CATEGORIAS: como a pessoa se relaciona com as várias referências que fazem
parte de seu mundo (assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e
relações);
2) PESQUISA
DA ESTRUTURA DE PENSAMENTO (EP): análise de como a pessoa se posiciona em sua
existência. Trata-se de tudo aquilo que constitui a existência humana:
sensações, emoções, conhecimento, pensamento, aptidões, etc.. Essa etapa
constitui-se de uma relação de trinta tópicos.
3) ANÁLISE
DOS SUBMODOS E SUAS RELAÇÕES COM A EP: o filósofo verificará como a pessoa
vivencia tudo aquilo que a constitui
Deste modo, ao invés de oferecer
soluções prontas e muitas das vezes falhas ao partilhante, o filósofo clínico o
tornará mais consciente de si e de sua forma de se portar frente à própria
existência. Trata-se de uma atividade constante do todo para as partes e das
partes para o todo. Consequentemente, o partilhante terá mais condições de
remodelar seus caminhos existenciais e ser mais pleno.
Em meio a tantas outras abordagens
terapêuticas (psicologia, psicanálise, comportamentalismo, etc.) a Filosofia
Clínica busca ser uma nova oferta, porém com características bastante
peculiares. O método conversa diretamente com as diversas linhas da tradição
filosófica, especialmente a epistemologia, lógica, fenomenologia, analítica da
linguagem, historicidade e estruturalismo, de maneira que ela efetua um resgate
e uma aplicação prática para aquilo que os filósofos disseram durante séculos
de história. É outro campo de atuação para o profissional formado em filosofia,
já que se restringia ao ensino até então. Em Filosofia Clínica também não há o
enquadramento do partilhante em quadros clínicos como normal X patológico,
saudável X doente. Partindo do pressuposto de que cada um possui uma maneira
própria de interagir com o mundo e que não existe uma forma correta a ser
seguida por todos, tais referências tornam-se desumanizantes e seu uso deve ser
evitado. Enfim, esse material elaborado pelo próprio sistematizador da
Filosofia Clínica apresenta um novo método clínico e devolve à filosofia uma
área de atuação que sempre lhe pertenceu durante tantos anos, desde que o ser
humano reflete sobre o sentido de sua própria existência.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Filosofia Clínica
Subtítulo: propedêutica
Autoria: Lúcio Packter
Editora: AGE
Ano: 1997
Local: Porto Alegre
Edição: 1ª
Gênero: Filosofia Clínica | Terapia
Nenhum comentário:
Postar um comentário