segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pensamentos (Blaise Pascal)



 “O coração tem suas razões que a razão não conhece.
 Sente-se isso em mil coisas. 
É o coração que sente Deus e não a razão.
Eis o que é a fé perfeita: Deus sensível ao nosso coração”  
(p. 144)

            Inventor da calculadora, Blaise Pascal se destacou na história principalmente como matemático, físico e filósofo. Dentre suas obras, Pensamentos (Pensées, no original francês) ocupa um lugar de destaque por conter as linhas mestras que orientavam o raciocínio desse gênio. Além do mais, ela expressa de forma clara e desvelada a crença irrefutável de Pascal nos preceitos da religião cristã. E é essa mesma religião o escopo principal no qual o autor constrói e embasa seus argumentos em defesa do cristianismo.
            Para Pascal, a religião representa uma dimensão crucial da existência do ser humano. Em virtude disso ele vai na direção contrária aos libertinos, os quais negam toda a religião revelada, devendo esta ser demonstrada para ser passível de aceitação, e os céticos, que colocam tudo em dúvida. A fim de garantir a importância da religião na vida humana, Pascal parte de um preceito moralista: o homem é um ser miserável, um nada do ponto de vista do infinito universo, um tudo do ponto de vista do nada, de forma que ele é apenas um meio termo entre o nada e o tudo. No entanto, ele é incapaz de atingir a verdade já que ela é constantemente enganada pela imaginação e outras “potências enganadoras”. Daí surge o argumento da aposta de Pascal: resta ao homem apostar toda a sua esperança na existência de Deus, pois tem tudo a ganhar e, mesmo que ele não exista, nada teria a perder.
            A existência humana conserva uma grande ambiguidade: ela é o campo onde o ser humano pode experimentar pobremente as promessas do paraíso, mas é também onde o homem constantemente se deixa preencher pela vaidade. A busca por satisfação o faz perder-se em prazeres fugazes perante o enorme potencial de ser que traz consigo. No entanto, a dualidade deste ser é o ponto no qual se encontra a grandeza do homem, que o faz reconhecer a sua miséria. Se a razão é importante para conhecer e conciliar os dois extremos (tudo ou nada), por meio de algumas verdades científicas, ela pode conhecer o meio. Nisto ela é ajudada pelo coração, o qual lhe dá as intuições fundamentais sobre as quais ela constrói as suas demonstrações. Não se trata de certezas inabaláveis e sim convicções mais concretas e verdadeiras. Além do mais, a razão em si é insuficiente para permitir a fé em Deus. Esta é alcançada somente se originar por um sentimento do coração. Sendo assim, permitir a fé pela razão nada mais é do que conduzir o homem a tomar consciência de sua contradição e da impotência das filosofias, uma vez que elas afirmam e negam de tudo, e admitir que somente a religião pode fornecer as respostas satisfatórias a todos os anseios. Consequentemente, ter fé não consiste em compreender racionalmente todos os mistérios e por isso manifestar a crença neles. Antes, a fé é uma atitude de humildade, de impotência frente à complexa trama do existir, que faz com que o homem se curve reverente perante o criador.
            A obra Pensamentos não possui uma sequência didaticamente organizada. Trata-se de reflexões que foram escritas por Pascal à medida que lhe surgiam no espírito. Desta forma, os assuntos se entrelaçam sem uma sequência sistemática. Mesmo assim, é possível captar facilmente no desenvolvimento da obra a estrita defesa que Pascal faz da religião cristã, colocando-a como uma marca orientadora para que o ser humano se encontre com sua própria verdade.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Pensamentos
Autoria:      Blaise Pascal
Editora:      Folha de São Paulo
Ano:           2010
Local:         São Paulo
Edição:      
Série:         Coleção Folha: livro que mudaram o mundo - Vol. XV
Gênero:      Filosofia

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