sábado, 19 de janeiro de 2013

O Dia de Ângelo (Frei Betto)

dia de angelo, o          Frei Betto é dominicano e escritor. Durante a época do Regime Militar no Brasil, participou ativamente das forças de oposição. Sua obra conta com vários títulos que falam de aspectos da ditadura, dentre elas se destacando Batismo de Sangue, onde aborda o assassinato do líder comunista Carlos Marighela e o dossiê de Frei Tito de Alencar Lima. Eleito intelectual do ano em 1986, Frei Betto também foi político, participando como ministro à época do governo Luís Inácio Lula da Silva.
          A obra em questão, O Dia de Ângelo, é o primeiro romance do autor e narra a ficção de um modo tão vivo que se mistura com a realidade, uma vez que toda a trama é construída sob um contexto histórico verídico. Mais do que uma história com início, meio e fim determinados, Frei Betto busca abordar profundamente a condição humana frente à restrição de sua liberdade. Assim o faz tanto do lado padecente quando do lado castigante.
          Ângelo P. é um jornalista detido como "terrorista" pela Ditadura Militar dos anos 70. Sua principal acusação era a de participar dos movimentos socialistas de oposição fazendo circular cartas que iam contra os militares. Na prisão, Ângelo sofre sozinho e abandonado na solitária. Tão só que a companhia de uma aranha, uma barata ou um mosquito se tornam suas principais distrações. Em meio ao tédio das infindáveis horas passadas no cárcere, Ângelo se esforça ao máximo para fazer de si uma companhia para si mesmo. No entanto, as pretensiosas desculpas dos militares o fariam terminar com o corpo pendendo de uma janela, levando consigo a explicação de que era um "louco e por isso cometera suicídio".
          Frei Betto divide sua obra em três partes: 1ª) o dia de Ângelo; 2ª) a manobra para inocentar os militares; 3ª) o desfecho da história com a revelação da verdade por parte de quem fizera as vezes do torturador. Ângelo condensa em seus curtos momentos na prisão a riqueza de uma subjetividade que se depara com o limite da própria vida, sentindo no entanto, que ela pulsa na certeza da morte. As poucas palavras dão lugar para que se faça ouvir uma gama de reflexões. Nada tão cruel como entrar na briga já certo da derrota.
          Com o depoimento claro de quem viveu no cárcere e conheceu o lado sombrio que não foi escrito nas páginas heroicas da história, Frei Betto traduz em seu personagem aquilo que deve ter sido a história de muitos outros presos durante o regime militar. A história de Ângelo pode ser uma chave de entendimento para compreender o sumiço de tantos outros oposicionistas da Ditadura. Uma história de martírio, muito mais do que de glória.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Dia de Ângelo, O
Autoria:     Frei Betto
Editora:     Brasiliense
Ano:          1987
Local:        São Paulo
Edição:     
Gênero:     Drama

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