“Torno-me responsável
por tudo aquilo que cativo”
Publicado em 1943 nos Estados Unidos, O Pequeno Príncipe logo se tornou uma
das obras mais populares e lidas em todo o mundo. É a terceira obra literária
mais traduzida, depois da Bíblia e do romance O Peregrino, já tendo sido publicado em mais de 160 línguas ou
dialetos. Seu sucesso mereceu uma adaptação para o cinema lançada em 1974. No
Japão foi construído um museu que retrata memórias do personagem principal.
A uma primeira impressão, a obra se apresenta
como direcionada ao público infantil, por possuir linguagem simples,
ilustrações coloridas e conteúdo breve. No entanto, o próprio autor deixa claro
que, embora assim aparente, a mensagem se direciona aos adultos, uma vez que
são os que mais têm necessidade de recuperar a infância perdida ou esquecida
dentro de si.
Durante uma viagem, o avião de um homem (que
por sinal é o próprio narrador) cai no Deserto do Saara e, enquanto se empenha
no conserto, ouve uma voz cândida lhe pedindo que desenhasse uma ovelha.
Intrigado com tal pedido, logo inicia um diálogo com o pequeno príncipe no que
este lhe diz que o motivo de seu desejo é que ele vinha de um planeta muito
pequeno e queria que a ovelha pudesse comer os baobás, os quais lhe traziam
grandes problemas pelo espaço que ocupam. No entanto, tal pedido lhe trazia
também uma preocupação, já que a ovelha poderia comer uma flor muito especial
que era sua companhia. Porém, essa flor era muito exigente, o que fez com que o
pequeno príncipe deixasse o planeta e iniciasse uma longa jornada que o levaria
a conhecer diversos mundos até desembarcar na Terra.
No primeiro planeta e no segundo havia um rei
que desejava fazer do príncipe seu súdito e um homem presunçoso carente de
aplausos, respectivamente. A atitude desses adultos assustara o pequenino e o
fizera continuar sua jornada. No terceiro e no quarto, havia um bêbado e um
homem de negócios. Cada vez mais o príncipe se surpreendia em como os adultos
podiam ser tão estranhos ao se preocuparem somente com seus próprios
interesses. No quinto planeta, bem menor do que os anteriores, um acendedor de
lampiões tinha muito trabalho em acender e apagar diariamente a lâmpada. Como
os dias duravam pouquíssimo tempo, sua rotina era exaustiva, mas agradava ao
príncipe que o planeta tivesse muitos pôr-do-sol. O sexto planeta era grande e
um geógrafo se ocupava na tarefa de explorá-lo e conhecer-lhe as fronteiras.
Interrogando o príncipe sobre como era o lugar de onde tinha vindo,
recomendou-lhe que fosse ao planeta Terra que era muito bonito.
Em sua visita a terra, o príncipe de depara com
um imenso jardim de rosas e se recorda de sua amiga, que se considerava a única
e mais bela rosa do universo. Imerso nessa meditação, encontra uma raposa que
se apresentou como sendo perigosa mas que, se fosse cativada, tornar-se-ia uma
grande amiga. E assim se fez... Além do mais, a amizade feita com o animal
levou-o a compreender que ele amava sua rosa, mesmo sendo vaidosa e egoísta,
por tê-la cativado, tornando-se assim responsável por ela. Desta forma, o
pequeno príncipe compreendera que desejava voltar a seu planeta por amar sua
rosa. E isso o faria tolerar aquilo que, de certa forma, o fazia ter certa
repugnância nela. Contudo, ele se despediria pesaroso do homem que havia
encontrado consertando o avião e que agora compreendera que o passar dos anos o
fizera perder a capacidade de ver além de como as coisas se apresentam aos
olhos. Marcado pelo jovenzinho, esse homem se tornara convicto de que, sempre
que olhasse as estrelas, se lembraria de seu amigo.
Visto por uma mente adulta, a história de O Pequeno Príncipe se mostra como
desinteressante e infantil. No entanto, tamanha simplicidade visa resgatar a inocência
de que as crianças são dotadas, fazendo-as os únicos seres humanos passíveis de
um amor verdadeiro e puro. O príncipe fora embora por não gostar das atitudes
de sua rosa. Porém, nos outros planetas por que percorrera, encontrara pessoas
que se satisfaziam em sua solidão. No entanto, eram pessoas frias, sem gosto
pela vida, presas à rotina maçante de repetirem sempre as mesmas coisas. O
tempo, a distância e o diálogo com a raposa, fizeram-lhe compreender que o amor
deve superar os gestos e atitudes negativos e reconhecer que a presença do
outro é a única forma de não se sufocar pelo excesso de si mesmo. Somente
assim, a relação e o amor se tornam férteis, mesmo que isso venha a trazer
alguma tristeza.
EXUPÉRY,
Antoine de Saint-. O Pequeno Príncipe. Rio
de Janeiro: Agir, 1962. 75 pgs.
Confira um trecho da adaptação para o cinema lançada em 1974:
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