sábado, 14 de abril de 2012

Não nascemos prontos!: provocações filosóficas (Mário Sérgio Cortella)

não nascemos prontos - provocações filosoficas"Gente não nasce pronta e vai se gastando;
gente nasce não-pronta e vai se fazendo" (p.13)
 
          Mário Sérgio Cortella é doutor em Filosofia pela PUC de São Paulo. Atua no ensino acadêmico, como também em palestras e consultoria no campo da ética, educação e gestão do conhecimento. Exerceu a função de chefe de gabinete do professor Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e o substituiu no cargo de secretário municipal nos anos 1991/92. Além do ramo acadêmico, também contribui em editoriais de jornais e programas de TV e rádio. Dentre as principais obras de Cortella, destacam-se: Descartes, a paixão pela razão (1988); A escola e o conhecimento – fundamentos epistemológicos e políticos (2004); Nos Labirintos da Moral (2005); Não espere pelo epitáfio... Provocações Filosóficas (2005).
          A vida é o espaço temporal onde o ser humano tece suas relações e interage consigo, com os outros e com o mundo. Nesta vivência ele é marcado e pautado pelos traços bem definidos que sua cultura e contemporaneidade lhe vão incutindo, fazendo-o adequar seu tornar-se pessoa humana ao socialmente aceito e difundido. No entanto, os tempos atuais clamam por uma atitude reflexiva sobre as circunstâncias do existir no contexto desse início do século XXI. A vasta e veloz transformação que o mundo vem sofrendo desde as inovações possibilitadas pelas revoluções industriais, tecnológicas, científicas e culturais, roubaram do ser vivente hodierno a disposição para refletir demoradamente tais mudanças. Tudo é transitório e acontece muito rápido.
          As tendências do mundo contemporâneo, completamente regido pela ditadura da tacocracia (do grego tákhos, rápido) conduzem a uma verdadeira acomodação existencial e a relativização dos valores e paixões. Diante desse quadro, o ser humano se rende ao culturalmente consumado, deixando de exercer seu papel mais intrínseco e diferenciador das outras criaturas: a de ser reflexivo e por isso transformador da realidade à sua volta. Tal natureza deixa claro que o ser humano é algo não pronto, mas que se atualiza a cada tempo de seu existir: "Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente" (p. 13).
          Cortella busca suscitar no leitor, através de pequenas reflexões, o despertar para um horizonte mais amplo do que a tacocracia dos tempos atuais oculta. Ver além de si e projetar-se rumo ao que se pode transformar, são passos imprescindíveis para que cada pessoa, homem ou mulher, exerça com maestria sua sublime vocação de construtor e autor da própria história. Não alguém submisso à fatalidade do destino traçado, mas alguém capaz de romper as fronteiras espaço temporais (principalmente aquelas que se constituem como verdadeiros empecilhos interiores), e acreditar ser possível realizar materialmente a essência de que os sonhos são feitos.
          Mario Sergio Cortella busca resgatar no leitor a fruição que o transitório, pronto e aparentemente acabado ocultou. Fazendo uso de seu refinado estilo de persuasão, recorre à intertextualidade, citando fragmentos de autores consagrados no Brasil e no mundo. Desta forma, semeia em quem se deixa levar pelas reflexões propostas, o sentimento de uma busca interior enraizada no concreto da vida. É a insatisfação que gera movimento e transformação.
 
CORTELLA, Mário Sérgio. Não nascemos prontos!: provocações filosóficas. 2ª ed.. Petrópolis: Vozes, 2006. 134 pgs.

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